Cronicas,
Poemas e Histórias
"Um gato vive um pouco nas poltronas, no
cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e
o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura.
É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e
que não carece de suplemento de informação. Livros e papéis, beneficiam-se com
a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da
vida intelectual."
(Perde o gato - crônica de Carlos Drummond de
Andrade)
“Eu fecho meu livro
“O Significado do Zen” e vejo o gato sorrindo para sua pele, e penteando-a
cuidadosamente com sua língua cor de rosa e áspera.
"Gato, eu
gostaria de te emprestar este livro, mas parece que tu já o leste".
Ele me olha
com seu olhar penetrante, e ronrona: "Não seja ridículo... Fui eu que
escrevi!"
(Texto de: Dilys Laing)
“O gato é uma
maquininha que a natureza inventou; tem pêlo, bigode, unhas e dentro tem um
motor. Mas um motor diferente desses que tem nos bonecos porque o motor do gato
não é um motor elétrico. É um motor afetivo que bate em seu coração por isso
ele faz ronron para mostrar gratidão. No passado se dizia que esse ronron tão
doce era causa de alergia pra quem sofria de tosse. Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho: esse ronron em seu peito não é doença - é carinho.”
(texto de: Ferreira Gullar)
"Caviloso.
Essa palavra saiu da moda mas deveria ser reconduzida, não existe melhor
definição para a alma do felino. E certas pessoas que falam pouco e olham.
Olham. Cavilosidade sugere esconderijo, cave aquele recôncavo onde o vinho
envelhece. Na cave o gato se esconde, ele sabe do perigo."
Lygia Fagundes Telles
"De todas
as criaturas de Deus, somente uma não pode ser castigada. Essa é o gato. Se
fosse possível cruzar o homem com o gato, melhoraria o homem, mas pioraria o
gato."
Mark Twain
"São
distantes, discretos, impecavelmente limpos e sabem calar. Falta mais alguma
coisa para considerá-los uma excelente companhia?"
Rainha
Maria Leszcynska
"Prefiro
os gatos aos cães porque não há gatos policiais."
Jean Cocteau
"A
natureza dos gatos parece fundamentar-se no princípio de que nunca é ruim pedir
o que se deseja."
Joseph Wood Krutch
"O gato possui
beleza sem vaidade, força sem insolência, coragem sem ferocidade, todas as
virtudes do homem sem vícios."
Lord Byron
"O gato é
o único animal que conseguiu domesticar o homem."
Marcel Mauss
"Mas
todos os gatos já não são perfeitos?"
(Sonia Hirsch)
"Dentro
adoram, pode ser gaveta, armário, cesta, saco de compras e, principalmete,
caixa de papelão; dentro redondo, então, é irresistível, mesmo que seja pirex
ou embalagem de sushi;
fora para
tomar sol, paquerar passarinho, sentir o vento passar pelo nariz trazendo
histórias nos cheiros;
em cima dos
guarda-roupas, das prateleiras de louça, da televisão com o rabo no meio da
tela, do monitor do micro, do livro ou do jornal que a gente está lendo: domem
e fazem charme;
embaixo de
cama, poltrona, sofá, colcha, tapete, para dar o bote quando a gente passa;e do
lençol, quando a gente quer arrumar a cama;
junto conosco
na cozinha em qualquer circunstância;
longe do
aspirador, do liquidificador, de qualquer coisa que faça barulho e do
veterinário, que também termina em dor;
perto de
parapeitos, beirais, janelas e outros lugares que deixam a gente de coração na
mão;
de papo pro
ar, quando faz calor, patinhas largadas ao léu;
na gente de
noite,quando faz frio: por cima e por baixo das cobertas, no meio das pernas,
no meio das costas, em cima da barriga, do lado do corpo, ninguém consegue se
mexer: humanos cercados por gatos por todos os lados;
tomando banho
em grupo, todo mundo lambendo todo mundo, com muita saliva, muito som, as
orelhinhas ficam encharcadas;
no chuveiro
vendo aquelas milhares de coisinhas brilhantes(1) se mexerem(2) fazendo
barulho(3): três coisas que gato ama;
no bidê
bebendo água corrente com a língua a mil por hora;
em cima da
cristaleira paquerando a mesa do almoço, de barrigunha cheia, mas 'Quem sabe
tem uma coisinha ali pra mim?';
mordendo as
perninhas traseiras da gata: o gato, quando quer que desocupe o lugar;
correndo a mil
pela casa, Tom e Jerry ao vivo e a cores, e ai dos vasos;
comendo com os
olhos os pombos que passeiam displicentemente debaixo do nariz deles pelo lado
de fora da rede;
caçando
passarinhos no oitavo andar, vitória que só um gato muito contemplativo, calmo,
concentrado e sortudo como 'Bigode' consegue obter sem despencar lá embaixo;
fascinados por
baratas: umas delas dura duas horas e meia para três gatos. O jogo é uma
espécie de futebol em que a bola está viva. Termina quando acabam as pernas. Da
barata."
('Os Gatos' de Sonia Hirsch)
"Os seis gatos gentis que me deixam morar na
casa deles adoraram, e eu também. Desconfiamos que até aqueles cães bonitinhos
do quarto andar gostariam, se não fossem... bem, cães. Nada pessoal, mas vocês
sabem como é - eles passam a vida buscando o jornal na porta, mas não há jeito
de fazê-los ler as notícias."
(Cora Rónai, falando sobre o livro 'Os Gatos' de
Sonia Hirsch
"O GATO E
O HOMEM"
Fiel
e ao mesmo tempo discreto, o gato, ao longo dos séculos, transformou-se para o
homem num companheiro singular, capaz de unir a arte da independência com a
força da presença.
"...Diz-se
que Deus criou o gato, para que o homem tenha uma miniatura do tigre para
acariciar. De fato, passar os dedos por uma pelagem que ronrona é uma
verdadeira alegria, um prazer sensual. E poder fazê-lo sem correr o perigo de
perder a mão, que alívio! A cabeça do gato adapta-se perfeitamente à mão do
homem, o seu corpo desliza naturalmente entre os dedos. O gato e o homem só
podem estar bem juntos."
O gato
(Vinícius de
Moraes)
Com um lindo
salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao
chão
E pega corre
Bem de
mansinho
Atrás de um
pobre
De um
passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a
língua
Pela barriga
O Gatinho Ficou Livre Afinal
Rose Arouck
Ele estava ali preso dentro da caixa da virtude.
Seu medo transbordava não deixando que ele mude,
ele nem podia quase se mexer.
Pobre gatinho! Como estava a sofrer.
Tentava rasgar as paredes da caixa,
que mais e mais seu pesadelo o encaixa,
livrar-se dos laços que o prendem, para dali correr,
mas, era muito pesada
para sua pata já tão machucada.
Ele quieto e triste ficava
miando um lamento de desconsolo,
pedindo socorro,
aranhando qualquer coração.
Sempre alerta ao menor sinal
o gatinho erguia as orelhas, como um canal,
para captar as falas que lhe chegavam.
Era manso mas estava feroz
e nada podia naquela hora calar a sua voz.
Cheguei como uma pluma ao vento
e pousei no seu lamento...
Com dificuldade retirei a tampa que o prendia;
ele sorrio com um miado sem tormento
e saiu pinotando de contentamento...
Vai gatinho! Vai vivenciar uma nova era!
Sua dona senhora lhe espera...
Ela está ápta a lhe oferecer nova quimera
e lhe dará para sempre
esse sol de primavera.
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Crônica e Poemas de Gatos
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